A mortalidade materna é um dos principais indicadores de qualidade do sistema de saúde de um país. Infelizmente, os números atuais no Brasil ainda revelam uma realidade preocupante. Analisar por que a taxa de mortalidade materna é tão alta no Brasil significa refletir não apenas sobre a qualidade da assistência médica, mas também sobre aspectos sociais e estruturais que afetam profundamente o cuidado com gestantes e puérperas.
A gravidez, que deveria ser vivida como um momento de esperança, ainda é cercada por riscos evitáveis em solo brasileiro. Hemorragias, infecções, hipertensão e complicações no parto continuam entre as principais causas de morte. No entanto, grande parte desses desfechos fatais poderia ser evitada com recursos adequados, protocolos eficientes e acesso universal a serviços de saúde de qualidade.
Esse problema não está restrito apenas à escassez de infraestrutura. O racismo estrutural, a desigualdade social, a falta de formação em obstetrícia e a desinformação também desempenham papéis fundamentais. São questões que revelam como fatores sociais estão intimamente ligados ao desfecho clínico da gravidez e por que o Brasil ainda ocupa posição crítica no ranking internacional de saúde materna.
Durante a pandemia de Covid-19, a situação se agravou consideravelmente. O aumento de quase 94% no índice de mortalidade materna reforça o quanto o sistema de saúde brasileiro precisa evoluir. Esse retrocesso explicitou não apenas fragilidades logísticas, mas também o impacto de emergências globais sobre populações já vulneráveis.
Explorar profundamente esse tema é essencial não só para entender o problema, mas para abrir caminhos que reduzam riscos. Neste artigo, abordaremos as principais causas, desafios estruturais, desigualdades sociais e até como ferramentas complementares de ciência aplicada à saúde emocional, como a hipnose científica, podem contribuir indiretamente na prevenção através da redução do estresse e da ansiedade durante o período gestacional.
Panorama atual da mortalidade materna no Brasil
Em 2022, a taxa de mortalidade materna no Brasil permaneceu elevada e voltou a ser foco de preocupação pública. Estudos e relatórios oficiais apontaram valores próximos de 60 a 70 mortes por 100.000 nascidos vivos em anos recentes. Esse indicador está bem acima do que seria aceitável para cumprir metas internacionais de redução da mortalidade materna. Importante ressaltar: a maioria das mortes é evitável. Fatores como atraso no reconhecimento do risco, falta de transporte, carência de equipes treinadas e deficiências na gestão hospitalar explicam muitos óbitos.
Durante a pandemia de COVID‑19 a situação piorou: houve aumento de mortes maternas diretas por infecção e também de mortes indiretas por perda de continuidade do cuidado. Medo de buscar serviços, redução de consultas de pré-natal e sobrecarga hospitalar explicam parte desse retrocesso.
Tecnicamente, distingue-se mortalidade materna direta da indireta. As causas diretas são complicações ocorridas na gravidez, no parto ou no pós-parto, e incluem principalmente hemorragia obstétrica, infecções puerperais e complicações hipertensivas como pré‑eclâmpsia e eclâmpsia. Já as causas indiretas envolvem doenças pré-existentes que se agravam com a gestação, como doenças cardíacas, diabetes e doenças respiratórias.
No contexto internacional, o Brasil está atrás de países de alta renda e também de algumas nações de média renda que reduziram muito a mortalidade materna com políticas concentradas. Isso mostra que progresso é possível quando há investimento em qualidade obstétrica, vigilância e equidade no acesso.
Principais causas da mortalidade materna no Brasil:
- Hemorragia obstétrica
- Infecções puerperais
- Complicações hipertensivas (pré‑eclâmpsia e eclâmpsia)
- Embolia
- Abortos inseguros
- Doenças crônicas agravadas pela gravidez (cardíacas, endócrinas)
- COVID-19 e outras infecções emergentes
Combater essas causas exige medidas integradas e foco na atenção obstétrica de qualidade urgente.
Fatores estruturais que elevam o risco de morte materna
A taxa de mortalidade materna no Brasil cresce por falhas na base do sistema de saúde. Em muitos locais faltam recursos hospitalares essenciais: leitos de UTI obstétrica, banco de sangue, medicamentos e equipamentos para emergência obstétrica. Isso transforma situações tratáveis em risco.
Regiões inteiras ficam a horas de distância de serviços de alta complexidade. O atraso para chegar a um centro com capacidade de resolver hemorragias, infecções ou pré‑eclâmpsia aumenta o risco. O acesso geográfico é parte crucial da explicação.
O pré‑natal é muitas vezes precário. Consultas faltam, exames importantes são adiados e sinais de alerta não são identificados a tempo. A carência de profissionais especializados em obstetrícia e anestesia obstétrica agrava o problema: sem quem saiba manejar complicações, emergências podem ser mal conduzidas.
A formação em obstetrícia importa demais. Profissionais precisam de treinamento prático, protocolos claros e simulações para agir rápido. Onde a formação é fraca, a tomada de decisão é lenta e imprecisa — e vidas são perdidas.
Falhas no sistema de referência e contrarreferência também pesam. Pacientes são encaminhadas sem registro consistente, sem transporte adequado e sem retorno planejado. A baixa integração entre serviços primários, maternidades e hospitais de alta complexidade impede continuidade do cuidado.
Veja comparação sintética entre recomendações da OMS e índices médios observados no Brasil:
- Cobertura pré‑natal: OMS ≥ 95% vs Brasil ~ 75% (consultas completas)
- Disponibilidade de UTI obstétrica: OMS presente em todos centros de referência vs Brasil desigual, muitas áreas sem UTI
- Profissionais treinados: OMS recomenda equipe multidisciplinar em cada parto vs Brasil déficit em especialistas em várias regiões
Dados oficiais sobre indicadores de saúde materna no Brasil podem ser consultados diretamente no Ministério da Saúde (Ministério da Saúde: https://www.gov.br/saude/pt-br).
Investimento contínuo, transporte eficiente, e protocolos bem aplicados mudam o quadro em curto prazo e sustentado.
Desigualdade social, racismo e impacto na mortalidade materna
O racismo estrutural e as desigualdades sociais são motores invisíveis que elevam a taxa de mortalidade materna no Brasil. Não é só falta de leitos: são padrões de atendimento, desconfiança e barreiras que pesam mais sobre mulheres negras e indígenas.
Estudos mostram que mulheres negras têm maior risco de óbito materno por receberem menos atenção no pré-natal, terem que insistir por exames essenciais e verem sinais de alerta subestimados durante o parto. O preconceito clínico e a comunicação deficiente ampliam atrasos no diagnóstico e no tratamento.
A condição socioeconômica interfere diretamente: sem renda ou transporte, gestantes perdem consultas, chegam tardiamente às emergências ou não conseguem internações rápidas. Falta de informação acessível e exigência de documentos também bloqueiam o acesso a exames e a programas de saúde.
Além disso, territórios historicamente marginalizados sofrem com serviços fragmentados e profissionais sem preparo cultural. Iniciativas sociais têm atuado para reduzir essas diferenças: formação antirracista de equipes, programas de doulas comunitárias, navegadoras obstétricas, ampliação da atenção primária e políticas de transferência de renda e comunicação em línguas indígenas.
Fatores sociais mais impactantes no aumento da taxa de mortalidade materna em minorias:
- Racismo institucional e viés clínico
- Baixa renda e insegurança econômica
- Ausência de transporte e distância a serviços
- Falta de informação culturalmente adequada
- Exigência documental e barreiras administrativas
- Privação educacional e baixa escolaridade
- Violência obstétrica e desrespeito no parto
- Políticas públicas insuficientes ou mal implementadas
Investimento público e participação comunitária são fundamentais e urgentes.
Combater essas causas reduz a taxa de mortalidade materna e fortalece a atenção à saúde das comunidades mais vulneráveis. Ações integradas e escuta respeitosa salvam vidas.
Consequências psicológicas e emocionais da mortalidade materna
A morte materna não é só um número. Quando a taxa de mortalidade materna permanece alta, famílias perdem mães, companheiras e cuidadoras; comunidades carregam um vazio emocional difícil de medir.
O luto coletivo costuma se instalar: funerais repetidos, medo constante em círculos sociais e relatos de insegurança que ampliam a sensação de que a gravidez é perigosa. Essa atmosfera pode desestimular o cuidado pré-natal —mulheres evitam consultas ou procuram atendimento tarde, por medo ou resignação.
Além do luto, há efeitos práticos: perda de renda, sobrecarga de parentes e ruptura de rotinas de filhos. O impacto emocional pode durar anos, afetando vínculos e a confiança no sistema de saúde. A percepção de risco elevado aumenta estresse e ansiedade nas gestantes, o que, por sua vez, pode piorar condições obstétricas já sensíveis.
O estresse crônico ativa respostas físicas: tensão arterial mais alta, sono ruim e menor adesão a cuidados médicos. Por isso, o manejo da ansiedade é parte essencial para reduzir danos indiretos da alta taxa de mortalidade materna.
Terapias baseadas em evidências —como terapia cognitivo-comportamental, técnicas de relaxamento e hipnose científica focada no manejo da ansiedade— podem ajudar. Importante: a hipnose é usada como ferramenta clínica, sem promessas milagrosas, sempre por profissionais capacitados e integrada a cuidados médicos.
Práticas recomendadas para reduzir o estresse durante a gestação (sempre acompanhadas por profissionais):
- Participar de pré-natal regular e esclarecer dúvidas com a equipe.
- Exercícios leves e orientados, como caminhada e alongamento.
- Técnicas de respiração e relaxamento treinadas por profissionais.
- Apoio social: grupos de gestantes, família e redes comunitárias.
- Acompanhamento psicológico quando houver ansiedade ou luto.
O cuidado emocional salva vidas.
Perspectivas de mudança e caminhos possíveis para o Brasil
Fortalecer a atenção básica é a base para reduzir a taxa de mortalidade materna: unidades de saúde próximas, pré-natal completo e sistemas de referência rápida evitam atrasos no cuidado e permitem identificar riscos cedo.
Investir na capacitação de equipes obstétricas — médicos, enfermeiros e parteiras — e em protocolos de emergência padronizados salva vidas. Isso inclui treinamento prático em hemorragia, pré-eclâmpsia e sepse; simulações regulares; e financiamento adequado para manter insumos, transporte e leitos. Tecnologia acessível, como telemedicina e prontuários eletrônicos, melhora monitoramento e coordenação entre níveis de atenção.
Integrar saúde física e emocional é essencial, porque o estresse e a ansiedade influenciam complicações obstétricas e adesão ao tratamento. Triagens rotineiras, atenção psicossocial e intervenções breves na rede primária reduzem riscos. As diretrizes da OMS oferecem referências globais. A Organização Mundial da Saúde apresenta diretrizes internacionais para saúde materna que podem servir de referência para o Brasil.
A hipnose científica pode potencializar tratamentos de saúde mental para gestantes quando usada por profissionais habilitados e em consonância com práticas baseadas em evidências. Não é promessa milagrosa: é uma ferramenta para manejo de ansiedade e regulação emocional, integrada a psicoterapia e acompanhamento médico, sempre com limites éticos claros.
Monitoramento contínuo, indicadores claros e participação comunitária garantem responsabilização constante. Conselhos locais, auditorias e pesquisa aplicada permitem ajustar políticas e manter foco nos grupos mais vulneráveis, reduzindo desigualdades e prevenindo óbitos evitáveis.
- Políticas públicas: ampliar atenção básica e financiamento perinatal.
- Capacitação: formação contínua e simulações obstétricas.
- Protocolos: rotinas nacionais de emergência e auditoria de óbitos.
- Tecnologia: telemedicina, registros eletrônicos e vigilância de dados.
- Saúde mental: triagem, intervenções breves e encaminhamento.
Com políticas integradas, investimento consistente e foco na saúde integral da mulher, é possível reduzir a taxa de mortalidade materna nos próximos anos. Há caminhos claros; falta vontade, não solução.
Conclusão
A análise de por que a taxa de mortalidade materna é tão alta no Brasil mostra que estamos diante de um problema multifatorial. Não se trata apenas do acesso a hospitais, mas de um conjunto de variáveis sociais, estruturais, raciais e culturais que se entrelaçam, criando um cenário de risco elevado para milhares de mulheres.
Verificamos que grande parte dessas mortes é evitável. Investimentos em infraestrutura hospitalar, na capacitação em obstetrícia, no fortalecimento do pré-natal e em políticas públicas eficazes são caminhos urgentes. Também é imprescindível enfrentar o racismo estrutural e reduzir desigualdades que afetam mulheres negras, indígenas e de baixa renda.
Outro ponto que merece atenção é que a saúde emocional das gestantes influencia diretamente a evolução da gravidez. O estresse e a ansiedade podem agravar complicações que, somadas à fragilidade do sistema, aumentam riscos. Nesse aspecto, práticas baseadas em evidências, como a hipnose científica aplicada ao manejo da ansiedade, podem contribuir como suporte integrado de saúde, respeitando sempre a ética profissional.
Se quisermos mudar esse cenário, é preciso avançar com responsabilidade, valorizando ciência, empatia e integração de diferentes áreas do cuidado. Você deseja aprender hipnose científica para aplicar profissionalmente? Para potencializar seu trabalho atual na área da saúde ou até mesmo conhecer uma nova profissão, conheça as formações e pós-graduação em hipnose baseada em evidências oferecidas pela Sociedade Brasileira de Hipnose pelo link: https://www.hipnose.com.br/cursos/.
Perguntas Frequentes
Por que a taxa de mortalidade materna é tão alta no Brasil apesar do SUS e políticas públicas?
A taxa de mortalidade materna no Brasil permanece elevada (em torno de 60–70 óbitos por 100.000 nascidos vivos em anos recentes) por causa de falhas múltiplas. Há déficits de infraestrutura, atrasos no reconhecimento de risco, falta de transporte e carência de equipes treinadas em regiões vulneráveis. Além disso, a fragmentação entre atenção primária e hospitais de referência e a desigualdade regional ampliam o problema. Investimento em pré‑natal de qualidade, protocolos e transporte pode reduzir muito esses números.
Quais são as principais causas evitáveis da alta taxa de mortalidade materna no Brasil?
As causas diretas mais frequentes são hemorragia obstétrica, infecções puerperais e complicações hipertensivas como pré‑eclâmpsia. Embolia e abortos inseguros também aparecem com frequência. Muitas mortes são preveníveis com reconhecimento precoce de sinais, acesso rápido a transfusão, antibióticos, medicação anti‑hipertensiva e parto assistido por equipe capacitada. A continuidade do cuidado no pré‑natal e a organização de linhas de referência salvam vidas. A informação e a triagem adequada são essenciais.
Como desigualdade social e racismo estrutural influenciam a mortalidade materna no país?
Desigualdade e racismo estrutural aumentam o risco de óbito materno ao limitar acesso e qualidade do atendimento. Mulheres negras e indígenas frequentemente recebem menos atenção, têm consultas pré‑natais incompletas e veem sinais de alerta subestimados. Pobreza, falta de transporte, exigência documental e barreiras culturais pioram atrasos. Programas como doulas comunitárias, formação antirracista e navegadoras obstétricas podem reduzir desigualdades. Enfrentar o racismo institucional é tão importante quanto melhorar a infraestrutura.
De que forma a pandemia de COVID‑19 contribuiu para o aumento da taxa de mortalidade materna?
A pandemia agravou o cenário por dois caminhos: aumento direto de mortes por infecção em gestantes e perdas indiretas por interrupção do cuidado. Medo de buscar serviços, cancelamento ou redução de consultas de pré‑natal e sobrecarga hospitalar produziram atrasos no diagnóstico e tratamento. Relatórios apontaram quase 94% de aumento em determinados períodos. Recuperar a continuidade do cuidado, vacinar gestantes e fortalecer rotas de referência são medidas essenciais para reverter esse retrocesso.
Que medidas práticas e rápidas podem reduzir a taxa de mortalidade materna nas regiões mais vulneráveis?
Ações de impacto rápido incluem garantir transporte obstétrico eficiente, ampliar bancos de sangue locais, disponibilizar kits de hemorragia e protocolos padronizados para sepse e pré‑eclâmpsia. Treinamentos práticos e simulações para equipes locais, além de telemedicina para consultas e suporte à decisão, também ajudam. Fortalecer a atenção primária com pré‑natal completo e triagem de risco, além de auditoria de óbitos para aprender com erros, reduz mortalidade em curto prazo.
A hipnose científica ajuda a diminuir riscos na gravidez e pode reduzir a mortalidade materna?
Hipnose científica é uma ferramenta de manejo da ansiedade e do estresse quando aplicada por profissionais habilitados, integrada a cuidados médicos. Reduzir estresse pode melhorar sono, pressão arterial e adesão ao pré‑natal, fatores que influenciam desfechos obstétricos. Contudo, hipnose não substitui medidas clínicas essenciais (transfusão, cirurgia, antibiótico). Ela atua como complemento psicossocial, útil para reduzir riscos indiretos relacionados ao estresse e favorecer melhor adesão ao tratamento e ao acompanhamento obstétrico.